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FoRC estima influência da contaminação cruzada em surtos de salmonelose pela ingestão de vegetais prontos para o consumo

Por danielamaia - Pesquisa

Última atualização em 21/07/2016

 

Estudo envolvendo modelagem preditiva revela que até 96% dos casos de salmonelose preditos no Brasil devido ao consumo de VPC poderiam ocorrer devido à contaminação cruzada, em cenários de ausência de uso de sanitizantes.

 

Pesquisa conduzida pela nutricionista Dra. Daniele Maffei, ligada ao Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center - FoRC), levantou as práticas empregadas por indústrias paulistas produtoras de vegetais prontos para o consumo (VPC) e avaliou a qualidade microbiológica desses produtos. O consumo de VPC vem aumentando no Brasil, como consequência de mudanças nos hábitos alimentares da população. Por serem consumidos na forma crua, os VPC não necessitam de qualquer tratamento adicional antes do consumo e, portanto, as indústrias devem garantir a qualidade e segurança destes produtos. Mas será que o procedimento empregado pelas indústrias brasileiras é capaz disso?

A pesquisadora visitou dez indústrias do Estado de S. Paulo, sendo três na capital e sete no interior. Mais do que detectar que os processos de desinfecção feitos com sanitizante à base de cloro garantiam qualidade para consumo nas indústrias visitadas, Daniele verificou quais eram os parâmetros que mais pesavam na redução e na ocorrência de contaminação cruzada por Salmonella typhimurium, bactéria causadora de uma doença de origem alimentar muito comum. Para isso, simulou parâmetros da água de desinfecção observados nas indústrias, incluindo pH, temperatura, concentração de matéria orgânica (sujeira) e concentração do sanitizante, e também o tempo de contato entre o sanitizante e os vegetais, além da proporção entre a quantidade de água e de vegetais lavados.

A pesquisadora então contaminou algumas amostras de alface com Salmonella typhimurium e realizou o procedimento de lavagem em água (clorada e não clorada), simulando os parâmetros físico-químicos da água observados nas indústrias. “Primeiro lavamos uma porção de alface contaminada, retiramos essa alface contaminada da água e, em seguida, lavamos sequencialmente dez porções de alfaces não contaminadas na mesma água. Observamos que, quando o sanitizante foi usado em concentrações acima de 10 ppm, não ocorreu contaminação cruzada, ou seja, a presença do sanitizante evitou a transferência da bactéria para a água de lavagem e, consequentemente, para amostras não-contaminadas lavadas na mesma água. Por outro lado, quando o experimento foi feito em água não clorada, ocorreu contaminação cruzada e a Salmonella typhimurium foi transferida para as dez porções inicialmente não contaminadas que foram lavadas na mesma água”.

Modelagem preditiva – Em uma última etapa, a pesquisadora inseriu os dados obtidos nos experimentos de laboratório em programas matemáticos computacionais de microbiologia preditiva, para estimar qual seria o impacto da contaminação cruzada durante a etapa de desinfecção por Salmonella devido ao consumo de VPC no Brasil. “Utilizando esses programas é possível predizer qual seria o número de surtos de salmonelose na população, e qual a influência da contaminação cruzada nesses surtos, em função da concentração de sanitizante usada na etapa de desinfecção”. E novamente o efeito do cloro foi decisivo.

“O modelo matemático construído estimou que dentre os casos de salmonelose preditos no Brasil devido ao consumo de VPC, até 96% poderiam acontecer devido à ocorrência de contaminação cruzada quando foram avaliados cenários em que o uso de sanitizantes não foi empregado. E quando inserimos no modelo uma concentração de cloro igual ou maior a 50 ppm, não houve casos preditos devido ocorrência de contaminação cruzada”, explica. Esta etapa do trabalho foi feita na Rutgers, The State University of New Jersey (USA), sob orientação do Dr. Donald Schaffner, especialista nessa área de microbiologia preditiva e avaliação quantitativa de risco microbiológico. 

De acordo com a Profa. Dra. Bernadette Franco, orientadora de Daniele e diretora do FoRC, o trabalho é um grande exemplo de pesquisa aplicada, pois foi além da pesquisa. “Ela fez parcerias, ministrou cursos de boas práticas para os manipuladores e apresentou para as empresas relatórios com os resultados das análises microbiológicas. Trata-se de uma pesquisa de aplicação imediata, muito próxima do dia a dia das pessoas. E a ciência tem justamente essa função: melhorar a vida das pessoas.”.

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